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Uma dia para além da Consciência Humana

  • Foto do escritor: David Bruno Narcizo
    David Bruno Narcizo
  • 20 de nov. de 2015
  • 4 min de leitura

Seguindo pela Washinton Luiz à caminho da minha cidade, estou trinta minutos do Dia da Consciência Negra. Tive uma palestra cancelada há menos de 24 horas do momento da minha exposição sob alegação de haver falta falta de quórum. Estranho se era para uma escola pública numa cidade em que ainda não existe o “Vinte”.

O tema da palestra proposto pra marcar o tal “Dia” da denominada instituição era a questão da “Influência Africana na formação da Humanidade do Povo Brasileiro”. Sob esse tema, abordaria questões nos recortes da Sociologia, Política, Economia, Teologia e Historiografia. Antes da chegada ao Tema, o sujeito que me convidara e, como já disse, antes de 24h da exposição, desmarcara o momento de reflexão, dissera que a palestra comporia um momento maior de atividades com a reflexão também maior sobre a necessidade de uma reflexão maior do que o Dia da Consciência Negra sendo assim a necessidade de uma Consciência Humana.

Nesse momento percorrendo esse asfalto, estou ainda intrigado com todos esses fenômenos dentro da nossa Relação Humana em que combinamos e descombinamos algo há menos de poucas horas pra acontecer sem nos importarmos com a vida e nossos combinados. Nossos acordos. Nossas palavras.

A Palavra nos círculos culturais africanos tinha um significado e relevância enorme. Não há, ainda hoje em algumas tribos africanas, o “voltar atrás”. Está falado, será cumprido. Mas no Brasil trazemos da tradição branca europeia esse péssimo costume, falar e desfalar o que a outra hora fora dito. Mas não estamos na África...

Falar de “Consciência Humana” é muito mais que só palavras soltas. Há uma carga energética e gritos e vozes dentro das palavras. Essas palavras foram faladas pelo ator Michael Friedman e quando isso caiu nas redes sociais viralisou. Lembro na época que briguei diversas vezes com pessoas pela rede as quais sempre ainda continuam saborear palavras negras recortadas de seus real contextos para justificar seus pensamentos racistas e eugenistas.

Quando Friedman fala sobre consciência humana, não está falando do dia 20 de Novembro, visto que o recorte étnico do dia no Brasil é diferente do contexto que o Friedman fala. Friedman não fala do dia 20 de Novembro Brasileiro e sim do dia da comunidade Judaica que lembra suas mortes nas ações macabras do Hitler. Friedman vive num pais onde as fronteiras raciais são tão bem marcadas que se consegue aplicar uma política pública mais igualitária. Friedman vive em um pais onde há grandes pessoas notáveis em diversos postos mesmo possuindo a cor preta. A sociedade de Friedman está de certa forma muito mais resolvida quanto as questões especificamente da igualdade racial do que nós negros brasileiros. Friedman está num pais onde ele sabe de onde vem os ataques e o “por que”, nós não sabemos quem nos bate por causa de um preconceito velado e transfigurado em igualdade e miscigenação numa grande teoria de harmonia das raças. Mas os tambores ainda não acertaram suas rixas com os metais e cordas. Há ainda muito que se acertar.

Mas essa foi a frase que a Elite usou pra deslegitimar séculos de luta do movimento negro.

Devemos entender que a Consciência Negra está além da Consciência Humana! A consciência humana foi superada no momento em que os seres humanos se sedentarizaram. Quando começaram a separação por classe. Quando o Humano se distanciou do Natural. Quando nos tornamos motor da história e não só seres viventes. A Consciência Humana é debatida muito bem antes de Rousseau com seu Contrato Social ou com Platão ao questionar a Imortalidade da Alma. Não há a necessidade de um debate profundo sobre a Consciência Humana visto que já o fizemos quando criamos o véu de separação entre nossos animais de estimação e nossos filhos. Mas, se alguém ainda precisa de uma Consciência Humana, o mesmo deve estar a viver literalmente com macacos. Então esse sujeito precisa de um psiquiatra e não de reflexões filosóficas.

Agora, a Consciência Negra está para além da Consciência Humana pelo fato de que, ao entendermos nossa Humanidade, ainda, depois de Bilhões de anos de existência do Homo Sapiens, ainda não conseguimos criar uma linguagem para além da cor da nossa pele. Não conseguimos criar uma linguagem para além de nossos costumes e tradições. Falar de Consciência Negra é falar dos tantos territórios belicosos na África, no Oriente Médio, nas históricas trincheiras brasileiras, nas periferias norte americanas, na fronteira México EUA, etc. A reflexão da consciência negra traz essa dicotomia levantada por Tzvetan Todorovi ao olhar pros anos do séc, XV e constatar a necessidade de entender o Outro. A reflexão da consciência Negra está na capacidade ainda infantil do ser humano de entender o Outro em Si Mesmo. A falta de capacidade de “ENSIMESMAR”.

Dessa forma, podemos dizer que precisamos de uma Consciência Negra, pois é no campo das cores das peles e das culturas que se dão os maiores campos de concentração e travamos as maiores batalhas.

Lutar por uma consciência humana é lutar por algo já ultrapassado e aceito por todos. Lutar por uma consciência humana é deslegitimar e apagar a história dos sangues pretos nos navios negreiros, dos sangues pretos dos capoeiras e das mães de santo que com seu sangue preservaram seus segredos guardados, dos sangues de cada malandro que pagou com seu próprio sangue preto a liberdade de ir e vir num território que suas habilidades não foram absorvidas no mercado, dos sangues pretos dos jovens negros que morrem pela bala da polícia, do sangue preto dos negros que são presos sem politica de re-inclusão, do sangue preto que senta na cadeira de uma escola na inocência de que será o Presidente do Brasil!

Precisamos de uma Consciência Negra para provar nossa humanidade pois até agora, o que provamos é nossa total irracionalidade quanto aos fatos de que ser humano é ver e entender no outro as nossas próprias diferenças e saber que nelas, estão nossas maiores virtudes e igualdades.

Viva ao 20 de Novembro. Um dia para além de muitos dias. Uma consciência para além da humanidade. Um momento para além de mim!


Asè


 
 
 

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